segunda-feira, 25 de julho de 2011

O TROCO

Eduardo era um rapaz pacato. Era do tipo que ajuda a todos sem pedir absolutamente nada em troca, e por isso, muitas vezes as pessoas tentavam tirar vantagem dele, mas raramente conseguiam. Bondade continuamente era confundida com ingenuidade, e de longe, esse não era o caso de Eduardo.
Além de muito sagaz, Dudu (como era chamado pela família) possuía o hábito de ir à academia para “malhar” e praticar artes marciais, e nesse dia quando recebeu o convite para uma festa na casa de alguns parentes um tanto quanto distantes, vislumbrou a possibilidade de colocar em pratos limpos uma velha rixa iniciada na infância. Sabe aquele primo encapetado que todo mundo tem? Pois é, Dudu também possuía esse algoz na família, e agora já adulto preparava o seu psicológico para um possível reencontro.
“Agora é a hora do troco, na primeira gracinha que ele disser eu arrebento os dentes dele” pensava.
Eduardo não nutria ódio pelo primo, muito pelo contrário, mas tudo que podia se lembrar no caminho para a festa era do primo quase duas vezes maior o humilhando na frente das maravilhosas priminhas, uma mais linda do que a outra (tenho certeza que todo mundo tem também!).
Agora lá estava ele entrando no quintal da casa da tia Jussara, a avistou suas priminhas, todas juntas conversando sobre assuntos diversos. Todas o observaram com um misto de surpresa e admiração, ele então teve a certeza de que todo o tempo gasto no intuito de definir o corpo havia valido à pena...  Por sua família possuir raízes nordestinas, o forró sempre rolava solto nas reuniões de família, e uma coisa que quase ninguém sabia era que Dudu sabia “rabiscar o salão” muito bem. E foi o que fez, nas duas primeiras horas, só o que fez foi dançar com todas as suas primas, e também algumas tias, aproveitando para soltar alguma graçinha no ouvido alheio quando percebia possibilidade, e lá, do meio de sua descontração ouviu alguém dizer:
- olha gente o Rafinha veio!!!
Ao ouvir o apelido de seu rival, todo o plano traçado meticulosamente voltou à mente. Continuou com as costas voltadas para o portão e ao sentir a aproximação do individuo inflou o peitoral.
- Não acredito... Disse Rafinha.
Dudu se virou e se deparou com um homem de 1,80cm de calça justa e camisa “mamãe tô forte” rosa.
-Primoooooo... Você está um arrasooooooooooo
Rafinha sacou um telefone rosa cheio de pedrinhas brilhantes do bolso e disparou gesticulando mais que mulher barraqueira:
- Me passa seu telefone primo, quem sabe a gente se encontra por aí pra “tomar” alguma coisa, hein amorrrrrrrrrrr...