sexta-feira, 15 de abril de 2011

AZULZINHO



“É hoje...”
Os pensamentos de Gustavo estavam voltados única e exclusivamente para os preparativos daquela noite. Seria a quarta vez que iria sair com aquela delicia de mulher que conheceu no cursinho de inglês, e como manda a “convenção social” que rege os encontros, essa noite eles iriam transar. A confirmação veio com um telefonema de Mirna combinando o horário do encontro e fazendo questão de enfatizar que essa seria uma noite especial, sendo assim estava ele então mentalizando todos os detalhes para que tudo fosse perfeito.
Como em qualquer outra empresa, independente do ramo, sempre havia aquele cara que “arruma” certas coisas, havia ouvido rumores de que esse sujeito poderia conseguir produtos para apimentar os encontros por um preço razoável e com a discrição necessária... Conseguiu um desses genéricos do Viagra por um preço justo, e assim, com o pensamento fixo em sexo, sorriu levemente pensando em como a deixaria destruída de prazer...
Faltavam apenas 15 minutos agora, ele se aproximou devagar  com o seu carro, estava tranqüilo, pois ninguém poderia vê-lo através do insulfilm g5, pensou que seria a hora perfeita para tomar o remedinho, sorriu ao se lembrar que os colegas de trabalho se referiam ao remédio como “suco de frutas gummy”, uma alusão a um desenho animado no qual os personagens bebiam o “suco” e podiam fazer coisas além da sua capacidade normal... Quando iria abocanhar o dito cujo, um buraco na via fez com que o carro balançasse de tal forma que o comprimido caiu de sua mão, e nesse mesmo minuto o telefone tocou, era ela, só para dizer que já avistara o carro e estava indo em sua direção. O desespero, procurando o comprimidinho naquela escuridão e Mirna se aproximando, conseguiu encontrá-lo e imediatamente o colocou na boca no exato momento em que Mirna abriu a porta do carro...
         - Oi amor!!!!!
Fez uma força terrível para engolir o remédio...
         - Oi... (gasp!) oi amor...
         - Tudo bem querido?
         - Sim, só fiquei sem palavras de ver o quanto você está linda hoje... ( nossaaaaaaaa!!!!!!!)
         - (risos) Ai ... Obrigada... E então... Preparado?
         - Você não imagina o quanto...
         - Então vamos, você irá adorar, essa noite será o próximo passo para nós...
         - Para onde vamos querida?
         - Vai dirigindo que eu indico a direção... É surpresa.
Ele se pôs então a dirigir o carro, e em poucos minutos pode perceber o remédio começar a fazer efeito. Estava dirigindo com uma das mãos apenas, e a outra repousava na coxa de Mirna, perto o bastante de sua virilha para causar uma ereção massiva, a calça estava com um volume fora do normal. A mente de Gustavo passeava por todos os filmes pornográficos que havia assistido desde a adolescência, e assim criou um catalogo com tudo o que queria fazer naquela noite, sentiu nessa hora um pulsar, e sorriu sabendo que estava pronto.
 Mirna indicou para que parasse o carro em certo local, ele estranhou que não tivessem ido a um motel “será uma noite especial”... Parou o carro, saíram ela segurou sua mão e se pôs a conduzi-lo pelo caminho de entrada da bela casa que agora ele podia ver... O volume em sua calça era monstruoso, ele se sentia envaidecido só de imaginar a reação de Mirna, estava tão perdido em seus devaneios que não percebia nada a sua volta e quando voltou a realidade se deparou com um casal de idosos com olhos arregalados em um misto de espanto e medo fitando diretamente para o volume em suas calças. Olhou espantado para Mirna e a ouviu dizer:
         - Então mamãe e papai... Esse é o Gustavo


MINHA PERDA, SUA PERDA... NOSSA PERDA

Algum tempo atrás, tive a infelicidade de perder o meu melhor amigo, meu pai, 10 anos se passaram , e  julguei que a ferida estivesse cicatrizada. Porém, alguém a quem eu dedico certa admiração, teve a infelicidade de passar pelo mesmo martírio que eu, não tive palavras para consolá-lo, o seu sofrimento me atingiu com tamanha intensidade, que percebi a ferida ainda aberta, ela apenas estava encoberta pelo pó do tempo, então me lembrei de como havia me sentido, um enorme vazio, sensação de impotência, lembrei, que tentei refazer na minha cabeça os eventos que culminaram no falecimento daquele que eu amava, tentando encontrar uma forma de impedir, que o que não pode ser mudado acontecesse, eu só queria ficar só, não queria nada nem ninguém perto de mim, porque me sentia extremamente culpado por não haver percebido que algo estava errado, me sentia culpado, porque na minha cabeça, acreditava realmente que eu possuía o poder de impedir que o meu pai fosse tirado tão prematuramente de minha vida, e simplesmente não fiz nada. E agora depois de tanto tempo, percebo que ainda me sinto assim...
Eu não conhecia o pai do meu amigo, mas sei que da forma deles, eles eram ligados... E ao ver seu sofrimento fiz o que gostaria que tivessem feito por mim, um abraço e silêncio, permaneci ali, nem ao lado e nem distante, sem dizer nada, porém deixando ele saber que eu estava ali caso fosse preciso...
Pois bem, minha ferida sangra novamente, e após 10 anos só o que eu posso dizer amigo, é que a sua ferida ainda irá doer muito, a dor diminui mas não pára... Luz e força!