sábado, 17 de setembro de 2011

A Vírgula

Mais um dia cansativo...
Estavam na via Dutra e o transito estava tranqüilo. Gumercindo estava dirigindo e Godofredo alternava entre cochilos e comentários sobre coisas que não tinham sentido...
    - Eu freqüentava uma termas aqui perto...
    - Onde?
    - Eu lembro que tinha que pegar a próxima saída...
Gumercindo não pensou duas vezes. Armou a seta e pegou a saída. Godofredo despertou quase que imediatamente e começou a dar as coordenadas.
    - A próxima à direita... (risos...) Esse lugar ficou conhecido como “a termas da vírgula”...
    - Ué... Por quê?
    - Por que houve uma época em que “a casa” era gerenciada por um travesti.
    - Putz!!! E ainda é?
    - Não... À esquerda...
    - Caramba, um tempão que eu não dou uma saída!
    - He He relaxa... É ali...
Entraram e foram muito bem recebidos, aquele clima de penumbra, vários odores misturados, e para surpresa de Gumercindo, muitas mulheres bonitas... Sentaram e uma das meninas foi logo sentando no colo de Godofredo...
    - Oi neeeem... quanto tempoooo...
     - É... Trabalhando muito
     - Você arrumou outra por aí né!?
     - Que nada meu amor... o meu coração é seu...
Gumercindo controlava o riso, Godofredo era clichê demais, e o pior é que funcionava. Estava observando os trejeitos de Godofredo, para saber como agir, quando foi abordado por uma das “menininhas de utilidade pública”...
    - Oi amor. Tudo bem?
    - Tudo e você? (ele baixou o tom de voz, tentando ser o mais sedutor possível)
    - Minha colega quer te “conhecer”... Ela disse que você é o número dela. Ela pode vir aqui?  
    - Claro...
A menina saiu em direção a uma mesa e Gumercindo acompanhou o trajeto com o olhar, e observou que a “colega” que queria “conhecê-lo” era bonita. Ela levantou e caminhou em sua direção... Salto alto, saia curtíssima e top (uniforme!!!), cabelo preto bem curto, do jeito que ele gostava. Pensou em se levantar para causar impacto, já que era bem alto, e ninguém imagina a surpresa de Gumercindo quando percebeu, ao levantar para cumprimentá-la que eles eram do mesmo tamanho..
     - Oi gato, meu nome é Zuleika, com “k”...
A voz rouca era deliciosa, mas assustadora ao mesmo tempo. Assim que percebera que eles possuíam a mesma altura, Gumercindo não conseguia parar de pensar na estória de Godofredo sobre a “vírgula”, e apesar de ser bem experiente, aquele lugar de som alto e penumbra dificultava, e muito, observar “detalhes”...
    - Oi... (tenso... o perfume era maravilhoso...) - Senta aí...

A partir daí estavam os dois amigos com as duas meninas entre eles, conversando e bebendo cerveja e energético, sempre que Zuleika virava para falar com o casal, ele tentava observar alguma coisa. Ela segurou em sua mão... Eram do mesmo tamanho a tensão de Gumercindo crescia a cada momento. Em uma passagem do canhão de luz, examinou os pés (ele gostava de pés bonitos), e eles eram grandes demais para uma mulher...
“Ai caramba, a vírgula!”
Já era alta madrugada, e ele explicou a Zuleika que não gostava de fazer programas, costumava ir ali só pra relaxar, e que se ela quisesse poderia ir procurar clientes sem problema algum...                     

    - Não gato... Estou muito bem aqui com você. Me diz... Você trabalha em quê?
Gumercindo começou a explicar o que fazia (“a vírgula!” não saía da cabeça), que era casado (“a vírgula” martelando...), e que já conhecia Godofredo quase a vida toda. Enquanto falava, pensou em todas as mulheres bonitas com quem havia ficado, e temia a potencial cilada que estava ali frente a ele acariciando suas coxas... 
    - Poxa gato que legal... mas deixa eu te perguntar... você já viu uma perseguida raspadinha?
Ele suspirou aliviado...
    - NÃO... NUNCA VI... POR FAVOR ME MOSTRA A SUA...


sábado, 10 de setembro de 2011

A saga de São Mateus 1


O ano era 1994...

Luciano e Érison haviam se conhecido em um curso profissionalizante, e a amizade foi selada quando descobriram o amor mútuo pelo rock n’ roll. Em uma época em que todos só queriam saber de “batidões” e “danças da bundinha”, se considerava um verdadeiro milagre dois jovens na casa dos dezessete anos gostarem de ouvir bandas de heavy metal da década de 80.

Por sorte, Érison morava em um bairro onde já havia um grupo de amigos que se reuniam em busca de “points” para “curtir som”, e ao ouvir o novo amigo dizer que só “curtia” em casa tratou de convidá-lo para ir a um clube que se dedicava a satisfazer os desejos dessa tribo que aparentava estar quase extinta. Nada no mundo poderia explicar a expressão de satisfação que se instalou na face de Luciano ao entrar no clube. As novas Amizades, Cliver, Eduardo Marcelo, Daniel, Tricolor, Diogo, Flávio e Roy e o ambiente totalmente novo, causaram uma enchente de emoções, e assim ele sentiu que não estava mais sozinho. Era um mundo novo, e cada coisa que acontecia era detalhadamente narrada para seus pais com tanta alegria que eles chegavam a esperar acordados por ele para ouvir as estórias.  E assim começou a “Saga de São Mateus”...

Deste dia em diante os fins de semana de Luciano eram dedicados aos novos amigos. Pode assim conhecer bandas novas, aprendeu a tocar violão, e conheceu também dois artistas que seriam fonte de inspiração futura (mas isso é outra estória!), começou a escrever o que um dos amigos classificou como “textos poéticos”, e diziam que ele era bom nisso. Mas isso também é outra estória...

Então vieram as festas. Sempre realizadas na casa do Flávio com muito rock ‘n roll, muita bebida, e pouquíssimas meninas. Como em qualquer outra festa (ele descobriria isso depois), havia sempre alguém exagerando. A festa rolou, e se formou então uma roda de discussão sobre rock. As coisas de sempre, quem era o melhor baixista, qual seria a formação da banda perfeita e etc.

A certa altura da madruga Eduardo levantou a questão:

- Galera... cadê o Roy? (um dos que sempre ficava chapado)

-Pô Dudu. ele disse que ia tirar a água do joelho...

-Caramba Daniel, mas já tem um tempão.


E então partiu Dudu em busca do companheiro perdido (kkk)! Atrás da casa onde eram feitas as festas havia um terreno baldio com um corrimão velho, que os homens usavam para urinar, pois assim o banheiro da casa ficava liberado para as mulheres, chegando lá Eduardo se deparou com uma cena que o paralisou... Roy estava desacordado debruçado no corrimão e com a bermuda arriada até os tornozelos... Dudu desatou a correr de volta pra festa, chegou no meio do salão, colocou as mão na cabeça e gritou com toda força que podia:

- Galeraaa Fuuuuuudeuuuuu Comeram o Roy....



Homenagem humilde à tribo de Saõ Mateus e aos inspiradores artisticos José Cleverlandes e Eduardo "Pará" Gomes".
Muito obrigado!
 Muita nostalgia...