terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CUMPLICIDADE

  Era noite, estava em casa com sua esposa, se preparava para assistir a um filme que contava uma dessas estórias de vingança que dão, na maioria das vezes, ótimos filmes de ação. Esse era realmente interessante, tanto que sua esposa decidiu assisti-lo com ele ao invés de ficar tricotando na internet com as amigas... Sabe como é mulher, sempre tem alguma coisa para falar sobre a vida de alguém. Sugeriu que poderiam comer algum aperitivo enquanto assistiam ao filme (essa era a senha para “me faça algo para comer”!), ela concordou e foi para a cozinha. O filme acabou se revelando realmente muito bom, e agora era chegada a hora de cerveja e da troca de idéias. Orgulhava-se, a ponto de falar com os amigos, de ter uma esposa divertida, que sabia conversar sobre vários assuntos, e que, quando não sabia, questionava e se mostrava interessada em ouvi-lo. Mesmo que fosse uma tática para satisfazer seu ego masculino, ele adorava, se sentia especial, e essas conversas regadas a cerveja e muita intimidade já haviam gerado boas noites. Haviam confidenciado experiências sexuais e de vida, decepções, alegrias, e no fim das contas aquele momento de descontração servia para se conhecerem um pouco mais, era como se fossem velhos amigos, com o beneficio da certeza de terem uma noite de sexo depois. A certa altura da noite foi questionado sobre como era o ambiente nessas “casas de massagem”, as famosas “termas”, ou “inferninhos”, cada um chama de um jeito, e explicou que eram ambientes pesados regados ao odor forte de suor e cigarro, e que todas as mulheres que ali estavam somente queriam dinheiro, e que faziam de tudo para consegui-lo, parou, pensou “estou precisando ir num puteiro”, o problema é que ele pensou em voz alta, tipo, quando percebeu já havia falado, e viu a expressão daquela pessoa amigável que estava ao seu lado se encher de uma fúria incontrolável.
       -Como assim você está precisando?
       -Calma, eu me expressei mal...
       -Então explica!
Estava desolado, ele que nunca havia solicitado os serviços dessas “meninas de utilidade pública” agora deveria explicar por que estava com vontade de ir a um “antro de perdição” (algumas pessoas chamavam assim, e ele achava engraçado), resolveu ser sincero, devia isso a ela, e talvez assim conseguisse ter de volta a garantia de um bom sexo depois daquela conversa.
       -Olha amor, apesar de ser difícil de acreditar, eu nunca paguei por uma mulher...
       -Você está me chamando de idiota????
       -Me deixa terminar..
       -Ta bom, vai, termina!
       -Então, como eu estava dizendo, eu vou para aliviar o estresse, é muito bom beber uma cerveja e ver as meninas peladinhas andando pra lá e pra cá, me servindo, perguntando se está tudo bem, é só isso!
Ela não disse nada, olhou nos olhos dele e se levantou caminhando em direção à cozinha. Ficou preocupado. Como conhecia um pouco as mulheres, sabia que era infinitamente melhor o falatório do que o silêncio. Estava com a cabeça baixa, imerso em seus pensamentos, se preparando para o inferno que seria a noite, e tentando imaginar o que essa conversa renderia, quando percebeu o copo cheio de cerveja sendo colocado à mesa, levantou os olhos e viu com espanto que ela estava nua...
       -E agora marido? Falta mais alguma coisa em casa???
Ele sorriu





2 comentários:

  1. É muito bom estarmos juntos de alguém com o qual podemos falar de tudo e até pensar alto. Cumplicidade é algo que não se compra...

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