terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

LAR DOCE LAR

Havia sido um dia exaustivo no trabalho... Tudo o que parecia ter sido resolvido no dia anterior, misteriosamente voltou a apresentar problemas, literalmente um dia perdido. Ele sabia o que isso significava: Reuniões e mais reuniões, e um falatório interminável de um chefe que entendia menos do que ele do trabalho... Poucas coisas o aborreciam tanto quanto essa situação, receber ordens de alguém que era menos qualificado realmente estraçalhava o seu ego “é só uma fase e preciso trabalhar, tenho família...”.
Agora, retornando para o lar, usava o trajeto para refletir sobre a vida, não podia se dar ao luxo de uma reflexão profunda com deveria ser, pois poderia causar um acidente de trânsito, mas encarava esse período como uma prévia dos assuntos sobre os quais iria refletir no aconchego do seu lar. Não possuía casa própria e havia perdido as contas de quantas vezes já havia se mudado, porém, independente de qual fosse a casa, ele sempre estabelecia uma relação de cumplicidade com o imóvel. Sentia-se bem quando chegava, quando se sentava no sofá e ligava a TV, todas as atribulações cessavam, e era ali que ele recuperava o fôlego para encarar o dia seguinte.
Alguns sinais fechados e muitos engarrafamentos depois havia chego ao seu lar. Fechou o carro, cumprimentou os vizinhos que todos os dias se sentavam em suas calçadas na esperança de que se ocorresse algum fato inusitado para que, por menor que fosse, pudessem ser os primeiros a espalhar a noticia. Chegou à varanda retirou o sapato, entrou em sua sala de estar e se sentou no sofá “Ah! Finalmente...” foi então que surgiu sua esposa. Costumava brincar com ela, dizendo que era muito chata, mas ela sempre respeitava seu espaço, e fazia de tudo para agradá-lo.
         - Oi filho! Tudo bem?
A pergunta sempre era mesma, sempre seguida de um beijo...
         - Tudo...
Ele sempre era reticente, era o sinal de que não queria conversar, e ela costumava entender, até porque, ele não entendia como era possível, que duas pessoas se falassem o dia inteiro por telefone, pela internet, e ainda sobrasse algum assunto para discutir quando se encontrassem no fim do dia... Mas esse era um dia diferente...
         - Filho... Sabe a Lucia?
         - Que Lucia?
         - Aquela minha amiga que eu te falei. A que engravidou do namorado...
         - Que tem ela?
         - Você não vai acreditar...
E então ela começou a fazer uma verdadeira dissertação sobre o assunto, voltando a sua adolescência com a amiga (por que voltar 10 anos no tempo, para falar sobre alguma coisa que aconteceu hoje?), e foi falando e falando.
         -... E então eu disse que ele não podia fazer isso com ela...
Ele olhando fixo para a TV...
         -... Mas ela me escuta? Não, claro que não...
A cabeça balançava em sentido afirmativo, mas ele não ouvia..
         -...então eu disse que eu não ia falar mais nada, e sabe o que ela me respondeu...
Então ele simplesmente se levantou foi em direção ao banheiro e se trancou lá. Tomou o seu merecido banho, e quando saiu estava mais aliviado. Sua esposa parecia ter percebido o que fizera, tanto que estava com os olhos marejados quando ele saiu do banho.Ele já estava com um leve sorriso no rosto, sabia que nesse curto período do banho, haveria tempo o bastante para que a esposa percebesse que vacilou... E ele já tinha a trama pronta para a sacanagem...
         - Filho... Desculpa... Falei sem parar não é?
         - Tudo bem. – Ele respondera sem olhar para ela.
         - É que eu só tenho você para conversar.
         - Eu sei... Tudo bem.
         - Você vai me amar até eu ficar velha e chata?
Era a deixa, olhou para ela com um sorriso nos lábios.
         - Vou sim... Mas só preciso esperar você fica velha não é?

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